Contextualização e explicitação dos procedimentos e abordagens adotadas.
Muita gente emperra na hora de começar um texto. Nada mais normal. A gente, em nossa ânsia de fazer algo perfeito, digno de louvores, acaba se esquecendo que o texto vai muito além da primeira palavra, da primeira frase. A introdução é uma parte importante do artigo ou do projeto, claro, e, por isso, muitas pessoas escolhem fazê-la por último.
Sim, isso mesmo. Você sabe por quê?
A introdução de uma pesquisa ou de um artigo deve conseguir mostrar para o leitor, de maneira breve, o que pretende-se com o texto, indicando todas as partes que serão desenvolvidas nele. Assim, faz bastante sentido você ir montando a introdução aos poucos e só finalizá-la quando deu texto também estiver terminado.
É importante que, nessa parte do texto, você contextualize seu tema, mostrando qual é a relevância de discutir esse tema, além de identificar de que forma você fará sua abordagem.
Vamos ler a introdução que Kátia da Costa Bezerra escreveu em seu artigo "Que bom te ver viva: vozes femininas reivindicando uma outra história"
“Em 1964, o Brasil foi sacudido por um golpe militar. O regime militar que se estendeu por 21 anos teve como premissa básica a Doutrina da Segurança, que compreendia dois pilares complementares: a segurança nacional e o desenvolvimento econômico (Stepan, 1976, p. 55). Para poder implementar as políticas necessárias, tornou-se indispensável suspender direitos civis e políticos. Os críticos ao regime militar foram presos, torturados, assassinados, sequestrados ou forçados ao exílio. O retorno ao regime democrático foi marcado pela presença de discursos que defendiam a necessidade de garantir uma transição conciliatória. Desde então, o que se verifica é a forma como certos grupos procuram monopolizar os discursos na esfera pública, dificultando o afloramento de outras falas que poderiam concorrer para uma reflexão mais profunda e plural do período da ditadura militar no Brasil. Soma-se a isso o fato de que, apesar da pressão por parte de diversos movimentos sociais e instituições, bem como dos familiares dos desaparecidos, as várias tentativas de resgatar a memória desse período têm se mostrado muitas vezes infrutíferas.
Mais recentemente, o debate em torno da memória da ditadura militar brasileira ganha novas proporções com a criação da Comissão Nacional da Verdade, que tem como finalidade apurar os casos graves de violação dos direitos humanos entre 1946 e 1988. A comissão foi criada com o objetivo de abrir um espaço de discussão na busca da verdade em nível jurídico e pessoal. Constituída por sete membros dos mais diversos setores da sociedade, a comissão mesmo antes de sua criação foi alvo de constantes questionamentos, fosse por parte dos militares ou de grupos que exigem a punição exemplar dos torturadores. Desde sua implementação, arquivos foram abertos, e cerca de 350 pessoas foram ouvidas. Dentre estas, destacam-se mulheres que detalham seu papel na luta de resistência e a tortura física e psicológica a que foram submetidas.
Este ensaio examina a forma como a narrativa produzida por mulheres procura dar significado a experiências até então silenciadas. Pretende-se analisar o modo como esse rememorar se estrutura através da inter-relação entre a memória histórica e a memória pessoal, presente e passado. Tendo como ponto de partida o filme Que bom te ver viva (1989), de Lúcia Murat, o artigo discute o modo como o filme permite problematizar perspectivas que tentam fixar e restringir as possibilidades de leitura sobre o período da ditadura militar. Em outras palavras, o ensaio discute o modo como o filme constrói quadros da memória que vão além daqueles tidos como representativos – uma dinâmica que propicia o questionamento de uma sintaxe que perpetua a noção domesticada de história de que fala Paulo Freire. É sob essa ótica que se pretende examinar Que bom te ver viva.”
Bezerra, Kátia da Costa. Que bom te ver viva: vozes femininas reivindicando uma outra história. Estud. Lit. Bras. Contemp., Jun 2014, no.43, p.35-48. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-40182014000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03/10/2017.
Ela inicia sua introdução contextualizando o tema de pesquisa. Primeiro ela aborda a Ditadura Militar Brasileira do ponto de vista de seus opositores e termina falando da atualidade.
No segundo parágrafo, Kátia aborda questões relativas à Comissão da Verdade, explicando qual é a situação atualmente do Brasil frente à ditadura militar.
Por fim, no terceiro e último parágrafo da introdução, a autora explicita ao leitor sua abordagem do tema a partir do objeto de seu estudo e ainda cita um dos autores que utilizará como base para o desenvolvimento de sua análise, no caso, Paulo Freire.